Por trás da máscara: o Fenômeno do Masking no Autismo Feminino.

Compartilhe esse artigo com

Sabemos que ser mulher nunca foi uma tarefa fácil.

Temos nossa história marcada por avanços significativos e desafios contínuos, onde vivemos experiências em que precisamos ser multifacetadas com características de empoderamento e representatividade.

Durante muito tempo as mulheres desempenharam papéis sociais muito distintos dos homens. Elas eram responsáveis pelo serviço doméstico e pela educação dos filhos. Com a revolução industrial as mulheres foram inseridas no mercado de trabalho, enfrentando a dupla jornada de trabalho nas indústrias e ainda mantendo as responsabilidades domésticas.

As mulheres conquistaram direitos ao longo do tempo: voto feminino, educação, trabalho, divórcio e proteção contra violência. No entanto, ainda persistem desigualdades de gênero atualmente.

 

Autismo Feminino

 

Mas por que falar disso tudo antes de adentrar no tema deste artigo?

É simples! Precisamos entender as características e o papel que a mulher ocupou e ocupa na sociedade, pois isso nos ajudará a entender o que chamamos de masking do autismo feminino.

Falar sobre o autismo ainda é um desafio para grande parte da sociedade que não consegue compreender o transtorno e acaba embarcando nas teorias do senso comum, disseminando informações que geram, na maioria das vezes, conceitos capacitistas, corroborando para a desinformação.

O mês de abril é marcado pela conscientização desse transtorno e penso ser fundamental falarmos como ele ocorre, no sexo feminino, desmistificando um dos mitos; o de achar que é um transtorno do sexo masculino.

TEA – Transtorno do espectro autista é uma deficiência, um transtorno do neurodesenvolvimento, que possui uma díade de comprometimento, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) definidos por déficits persistentes na comunicação social e na interação social (critérios A do DSM-V) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (critérios B do DSM-V).

 

Autismo Feminino

 

O autismo tem dois padrões de início: o precoce, onde desde cedo os sintomas ficam evidentes pois a criança não atinge os marcos do desenvolvimento e o regressivo, onde a criança se desenvolve dentro dos marcos e após a apoptose, mais conhecida como poda neuronal (processo de “limpeza” do cérebro que acontece naturalmente), ela vai perdendo habilidades já conquistadas. O autismo pode ser classificado em 3 níveis de suporte, o 1, o 2 e o 3. Esses níveis de suporte servem para nos orientarmos no quanto de suporte cada indivíduo necessita para ser funcional.

Importante registrar que, como qualquer transtorno, para ser diagnosticado precisa trazer prejuízos significativos para o indivíduo. Diferente do que muitos acreditam o autismo não é doença, não tem cura e pode ser diagnosticado desde a primeiríssima infância, desde que seja realizada uma avaliação com um profissional capacitado. O autista pode transitar entre os níveis de suporte. Isso vai depender das demandas e necessidades de cada indivíduo e dos estímulos oferecidos para potencialização e ganhos de habilidades. Para o melhor prognóstico é de extrema importância que a intervenção aconteça de forma precoce.

Nenhum autista é igual ao outro e apesar do autismo ter características específicas, ele pode se manifestar de diversas maneiras nos indivíduos, por isso chamamos de espectro. Muitos autistas apresentam questões sensoriais e possuem comorbidades, que seriam outros transtornos associados. O mais comum no TEA são o TDAH – Déficit de Atenção e Hiperatividade e o Transtorno do Desenvolvimento Intelectual, mais conhecido como DI (deficiência intelectual).

Todas essas características descritas até aqui ficam muito evidentes em pessoas do sexo masculino. Mas como esse diagnóstico é dado em pessoas do sexo feminino?

Estudos pontuam que o diagnóstico tardio das pessoas do sexo feminino pode estar associado ao preconceito de gênero, pois culturalmente é ensinado que meninas devem ser mais comportadas, não sendo levada em consideração a dificuldade sociocomunicativa, contribuindo assim com o subdiagnóstico ou diagnóstico tardio (Rutherford et al., 2016).

 

Autismo Feminino

 

Ou seja, muitas mulheres são subdiagnosticadas por apresentarem comportamentos “diferentes”, mas que são entendidos como  “padrão” para as mulheres.

masking no contexto do autismo refere-se à habilidade de uma pessoa com autismo de “mascarar” ou ocultar seus traços autistas em determinadas situações sociais. Quando uma pessoa com autismo está “mascarando”, ela se esforça para imitar comportamentos sociais considerados “normais” ou neurotípicos. Isso pode incluir a imitação de expressões faciais, gestos, tom de voz e formas de socializar. Esse masking acontece de forma natural através de uma tentativa de se encaixar em padrões sociais aceitos.

Como as mulheres são “treinadas” para se comportarem de uma maneira mais tolida, com postura ao se sentar, com tom de voz mais sereno, com uma comunicação e linguagem mais assertiva e rebuscada, com formas de se expressar mais positiva, essas características do autismo vão sendo “camufladas”. As meninas por exemplo podem ser chamadas de ingênuas, quando na verdade têm dificuldade com o que é literal ou podem ser chamadas de extremamente vaidosas quando na verdade possuem hiperfoco em maquiagem…

Alguns sinais de alerta para o TEA feminino, segundo a Dra. Déborah Kerches, são:

  • repetições “discretas” como organizar e reorganizar objetos por diversas vezes;
  • demonstrar apego excessivo a determinado brinquedo e brincar com ele por um período maior do que a idade típica;
  • fala mais acelerada, sem muitas pausas, especialmente em assuntos de interesse;
  • alterações prosódicas, como volume mais baixo e entonação mais monótona;
  • ausência de atrasos na fala, mas com prejuízos na pragmática, nas iniciativas comunicativas e comunicação recíproca;
  • falta de “filtro social” e/ou abordagens inapropriadas;
  • necessidade de controlar;
  • automutilações como roer unhas, cutucar machucados, morder ou tirar pele dos lábios;
  • falta de resposta favorável no tratamento de condições como ansiedade e depressão.

O autismo em meninas é uma realidade que precisa ser abordada, uma vez que elas também enfrentam enormes desafios do dia a dia.

Como consequência dessa invisibilidade temos dificuldades sendo negligenciadas em etapas importantes da vida, tornando inclusive as mulheres mais suscetíveis a abuso de caráter físico e/ou emocional.

Podemos citar ainda o mercado de trabalho e se considerarmos a desigualdade de gênero existente, conforme comentado no início deste artigo, já podemos prever mais desafios tanto para a inserção, como permanência.

Precisamos falar sobre o autismo em mulheres para que elas também tenham acesso aos recursos e às oportunidades, fazendo-as vivenciar um cenário de respeito, acessibilidade e inclusão.

 

Autismo Feminino

 

Se você se interessou por esse tema e acredita que mais pessoas precisam dessas informações, compartilha! Ficou com dúvidas? Entre em contato!

Contatos:

@psicopgleicekelly

[email protected]

(21) 98822-7785

Gleice Kelly Jales – Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Graduada em Pedagogia. Aplicadora do Teste de Screening do Desenvolvimento infantil Denver II e do BAYLEY III. Especialista em Desenvolvimento infantil pelo CBI of Miami. Pós – graduanda em Análise do Comportamento pela CENSUPEG e em TDAH pelo CBI of Miami. Certificada no PRT (nível 1), no PODD, no PCM e no ESDM (introdutório). Coordenadora ABA no espaço de desenvolvimento AFFECT.

Referência bibliográfica

Milson Gomes Freire; Heloísa dos Santos Peres Cardoso: Diagnóstico do autismo em meninas: Revisão sistemática. Revista de Psicopedagogia 2022;39(120):435-44. Trabalho realizado na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Bahia (FACITE), Santa Maria da Vitória, BA, Brasil.

Perguntas e Respostas sobre: Por trás da máscara: o fenômeno do masking no Autismo Feminino.

O que é o masking no autismo feminino?

Como o autismo é diagnosticado em pessoas do sexo feminino?

O diagnóstico do autismo em pessoas do sexo feminino pode ser difícil e muitas vezes tardio devido ao preconceito de gênero, pois culturalmente é esperado que as meninas sejam mais comportadas, o que pode mascarar os sintomas autistas.

Quais são os sinais de alerta para o autismo em meninas?

Alguns sinais de alerta para o autismo em meninas incluem repetições discretas de comportamento, apego excessivo a determinados objetos, fala acelerada em assuntos de interesse, alterações prosódicas na fala, falta de filtro social, necessidade de controle, automutilações e falta de resposta favorável em tratamentos para ansiedade e depressão.

Como o masking ocorre naturalmente no autismo feminino?

O masking no autismo feminino ocorre naturalmente devido ao treinamento social que as mulheres recebem para se comportarem de maneira mais tolida, o que acaba por camuflar as características autistas, como postura ao sentar, tom de voz sereno, comunicação assertiva e expressão positiva.

Quais são os desafios enfrentados pelas mulheres autistas no dia a dia?

As mulheres autistas enfrentam desafios como a invisibilidade do autismo em mulheres, dificuldades negligenciadas em etapas importantes da vida, tornando-as mais suscetíveis a abuso físico e/ou emocional, além de enfrentarem desafios no mercado de trabalho devido à desigualdade de gênero.

Brasil | Rio de Janeiro | Niterói

  • Comentários encerrados.