O texto iniciará com a seguinte pergunta: Como lidar com o lado sombra?
É possível afirmar que, por questões culturais, não se percebe o que é óbvio. Porque o óbvio coloca as pessoas em um lugar que, por séculos ou desde que o indivíduo existe no mundo, desaprenderam a estar – o lugar do SER humano.
A questão é que, na busca por domesticação a qual se tornou dominação, o indivíduo é ensinado a se colocar acima dele mesmo – da sua própria natureza humana – e para isso, exige-se que ele somente enxergue o que é luz, ao mesmo tempo, puna atitudes que não representem – dentro da lógica de subordinação – o “bem”, o “certo” e o “ser bom”.
Contudo, pergunta-se: o que é luz? Para compreendê-la é fundamental se ter a percepção da escuridão! Se colocar em uma posição de humildade e se movimentar para conscientização de que os conflitos existenciais do indivíduo dizem respeito a: crença que é capaz de sozinho lidar com a sua sombra e que já sabe como lidar com ela, ou seja, uma crença de superioridade que o faz acreditar que já “domesticou a sua sombra”.
Primeiramente, o convite é refletir e caminhar para a internalização de um ponto importante: é a sombra que lida conosco! A sombra faz parte do indivíduo, em outras palavras, para o indivíduo existir se faz necessário a coexistência do lado luz e do lado sombra. Ele, quando se afasta de um dos lados – buscando os extremos, deixa sua vida em desequilíbrio, porque ele passa a não se enxergar de maneira completa.
Importante dizer que luz e sombra não têm relação direta com a ética ou com a moral, pois muitas vezes o indivíduo se depara com situações que o levam a se movimentar a partir do seu lado sombra, mas sua decisão – sua escolha – não passou de forma consciente pelo crivo da ética e|ou da moral. Ele se movimenta a partir da sua necessidade ou das suas necessidades mais latentes, e é aí que está a questão! As necessidades humanas são diversas, são compartilhadas por todos os indivíduos e são a motivação dos comportamentos humanos para a experiência de viver plenamente.
Então, o real desafio talvez não seja em como lidar com o lado sombra, mas sim seja de manter e satisfazer as necessidades humanas em todos os 5 níveis – conforme estruturação criada pelo psicólogo Abraham Maslow –, eis que o mundo muda o tempo todo (o que é certo hoje, poderá não ser amanhã!), a vida de cada indivíduo muda em tempo e espaço diferentes.
Talvez seja necessário buscar meios para aprender a experimentar a vida como ela é – movimento|impermanente! E, simultaneamente, procurar – com a prática destes meios – escolher caminhos através dos quais todas as pessoas consigam ter suas necessidades atendidas – observando e cuidando do tempo e do espaço de cada uma. Ao seguir este percurso, a tendência é que os seres humanos se aproximem mais da sua essência e promovam no dia a dia cada vez mais ações não-violentas em todos os aspectos.
Todavia, o caminho do meio – da essência – exige do indivíduo a percepção e a aceitação do seu lado luz e do seu lado sombra, pois quanto mais ele se coloca acima de si mesmo ao acreditar que ele se constitui somente de luz e nega as suas sombras, mais a vida provoca fortes pressões para que ele enxergue quem ele é – mostrando as sombras como um “convite curativo” para evoluir|para transcender.
E a Comunicação Não-violenta (“um processo de pesquisa contínua desenvolvido por Marshall Rosenberg e por sua equipe internacional de colegas que apoiam o estabelecimento de relações de parceria e cooperação a partir de uma comunicação honesta e com empatia.”) tem se mostrado como uma ferramenta eficaz tanto para cuidar das necessidades humanas na relação intrapessoal e nas relações interpessoais quanto para mover o indivíduo para acolher-se da forma como ele é – HUMANO composto de luz e sombra.
A primeira etapa é aprender a observar o fluxo do corpo e da mente – dando presença ao aqui (espaço) e ao agora (tempo) assim como eles se apresentam – sem julgamentos moralizadores às informações e|ou às percepções que chegam, pois eles promovem dinâmicas classificatórias por meio de rótulos que provocam estigmas e causam o afastamento do lugar de equilíbrio no qual é oferecido ao indivíduo a abertura para compreender o sentir – os sentimentos.
O que sinaliza se as necessidades humanas estão sendo atendidas ou não estão sendo atendidas são os sentimentos, como Marshall Rosenberg fala, é o que está vivo em nós no aqui e no agora que ancora o que precisamos e o que não precisamos. Sendo assim, sentimentos agradáveis – como a tranquilidade, a alegria, o prazer, a gratidão etc. – trazem a sensação de bem-estar e incentivam o indivíduo a permanecer ou continuar fazendo o que atendeu a(s) necessidade(s) de forma satisfatória. Já os sentimentos desagradáveis – como o medo, a tristeza, a angústia, a raiva etc. – mostram que é preciso dar atenção a alguma(s) necessidade(s) que não estão sendo atendidas, pois eles movem o indivíduo para buscar condições as quais o possibilitem cuidar melhor de ele mesmo, bem como se conhecer por completo.
A última etapa da Comunicação Não-violenta é realizar um pedido – claro, específico, realizável e negociável – com base no que o indivíduo identificou|percebeu como uma necessidade latente ou como uma maneira de manter a necessidade satisfeita e continuar para atender uma necessidade de outro nível, conforme a pirâmide de Maslow. Contudo, em outro artigo será possível falar mais sobre esse ponto!
O que fica até aqui é que o indivíduo precisa tomar consciência, primeiro, que a vida é feita de ciclos. A segunda consideração é que cada pessoa realiza escolhas de como caminhará por estes ciclos que por vezes a puxarão mais para o lado luz e em outras vezes mais para o lado sombra – dependendo do quão distante ela se encontra do ponto de equilíbrio, porque é no lugar do equilíbrio que cada uma sente a força da sua essência – é se sentir responsável pelo seu presente (o aqui e o agora).
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