OS ENCONTROS CIRCULARES COMO APOIO E CUIDADO DA VIDA

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“O perdão é a única reação que não re-
age apenas, mas age de novo e
inesperadamente, sem ser condicionada
pelo ato que provocou e de cujas
consequências liberta tanto o que perdoa
quanto o que é perdoado (…). O verdadeiro
perdão é alcançado em comunidade (…)”
Hannah Arendt

Esta citação da Hannah Arendt,  filósofa política alemã de origem judaica, tem o propósito de enfatizar o poder que o perdão tem de interromper o desdobramento repetitivo de estruturas mentais, físicas e emocionais que ocorre após um acontecimento traumático e, sim, a tendência é que essas estruturas sejam reproduzidas continuamente estabelecendo um padrão de repetição inconsciente muitas vezes. Sendo assim, a cura de um trauma a partir de um despertar voluntário, como por exemplo, o perdão, gera mudanças significativas tanto na esfera individual quanto na coletiva.

É muito importante destacar que, a partir de um olhar sistêmico, um trauma não curado é perpetuado de forma inconsciente e até infinita (de geração para geração) entre os núcleos familiares e as comunidades. E isso pode ser observado de diversas formas comportamentais como: depressão, ansiedade, violência em diversas circunstâncias, abusos – de drogas lícitas e|ou ilícitas – etc., o que acaba por atingir todo o sistema familiar, comunitário e social.

Contudo, a pergunta que chega é: como romper os ciclos comportamentais de vitimização e|ou de violência de quem vive ou viveu uma situação traumática?

Pesquisadores afirmam que os grupos podem ser agentes de transformação, ou seja, os movimentos em grupo, de pessoas que se conectam por conta de necessidades e interesses comuns, tornam-se caminhos potentes e cooperativos para se chegar a compreensões e mudanças intrapessoais e interpessoais. Através da interação em grupo, quando as necessidades e interesses individuais são compartilhados, é possível promover conscientização para elaborar o perdão que é um sentido para a cura – para apropriar-se da vida outra vez.

Ao estabelecer momentos em grupos que busquem apoiar e cuidar de pessoas que sofrem ou sofreram por conta de uma situação traumática, facilita-se a oportunidade de compreensão do que aconteceu por parte delas e, ao mesmo tempo, promove-se meios que as ajudam no reequilíbrio do seu estado mental, físico e emocional.

As Terapias Integrativas Comunitárias (TIC), reconhecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além do seu caráter preventivo, têm este papel de acolhimento a partir de partilhas (diálogos compassivos); da auto-observação|autopercepção e observação|percepção do outro; da escuta e autoescuta empática; de deixar fluir a criatividade com leveza; de aprendizados individuais e coletivos.

Isto porque as pessoas que sofreram ou estão sofrendo devido a eventos traumáticos necessitam entender, sem julgamento desmoralizador, o que aconteceu com elas, e a relembrança dessa necessidade e interesse comum a todas proporciona uma mobilização e uma motivação as quais geram movimentos internos e externos para a ressignificação e as mudanças que as fazem abandonar a culpa. Ou seja, o indivíduo, ao levar para o grupo sua necessidade de contar a sua história, realiza uma confrontação subjetiva das suas memórias, o que possibilita uma reformulação do que foi internalizado e consequentemente, sua transformação.

Para tanto, se faz necessário que, nestes espaços coletivos, o indivíduo sinta-se protegido e seguro emocionalmente e fisicamente para que se atinja os fins pretendidos com a terapia comunitária, como por exemplo: a regulação de todos os aspectos da vida que integram o seu SER, a melhora da autoestima, dentre outros – já que a dor e o sofrimento o fazem acessar os sentimentos de desamparo, de vergonha, de frustração, de humilhação, do medo que paralisa etc., os quais não lhe deixam sair do lugar de vitimização.

Quando se organiza espaços de conivência que oportunizam a vivência e o reconhecimento do sofrimento proveniente da dor gerada pela situação traumática é possível encontrar a cura e assim se romper os ciclos reincidentes. Estudos comprovam que ao contar a história, em encontros periódicos e graduais que oferecem práticas cuidadosas para que as pessoas acessem suas memórias e seus sentimentos, compreendam e ressignifiquem os fatos e as emoções vinculadas as suas dores (ajuda na integração do indivíduo) fazendo-o se sentir em paz consigo mesmo novamente.

Nestes encontros coletivos podem ser utilizadas diversas práticas de apoio e cuidado como: trabalhos manuais (arte), musicalização ativa, dança circular, dramatização (teatro), escrita ativa, meditação, rituais e cerimônias, todas viabilizam o trabalho do corpo, da mente e de energias que integram o indivíduo.

Portanto, ao facilitar um grupo de pessoas busca-se:

1) A aprendizagem que pressupõe integração entre as pessoas e entre as pessoas com o todo (natureza). A aprendizagem é a experiência absorvida por meio da interação.

2) A interação que pressupõe a comunicação verbal e não verbal com outro e com o todo (natureza). Quando as pessoas interagem com tudo e todos constroem mais significados entre si.

3) O vínculo é um elo criado entre os indivíduos e é mais longevo e estável que a interação. Um vínculo, mesmo ligando os indivíduos, não os tornam iguais. O que existe é a conscientização da interdependência entre eles, mas o entendimento de SER único não deixa de existir, nem as histórias, as necessidades e as expectativas individuais.

4) O descentramento é um afastar do EU para ir em direção ao outro e ao todo. É o reconhecimento do outro e do todo, entendendo a interconexão que pode existir nos encontros em grupo a qual viabiliza a elaboração de rede de vínculos fortes para que todas as pessoas ali presentes se sintam seguras e conscientes de que fazem parte do grupo e do todo (da natureza).

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